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domingo, 24 de outubro de 2010

BAUDELAIRE: SPLEEN, MELANCOLIA, DEPRESSÃO

Sobre Baudelaire e distúrbio bipolar:
http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1060&context=srhonorsprog 


Spleen
 
Quand le ciel bas et lourd pèse comme un couvercle
Sur l'esprit gémissant en proie aux longs ennuis,
Et que de l'horizon embrassant tout le cercle
II nous verse un jour noir plus triste que les nuits;

Quand la terre est changée en un cachot humide,
Où l'Espérance, comme une chauve-souris,
S'en va battant les murs de son aile timide
Et se cognant la tête à des plafonds pourris;

Quand la pluie étalant ses immenses traînées
D'une vaste prison imite les barreaux,
Et qu'un peuple muet d'infâmes araignées
Vient tendre ses filets au fond de nos cerveaux,

Des cloches tout à coup sautent avec furie
Et lancent vers le ciel un affreux hurlement,
Ainsi que des esprits errants et sans patrie
Qui se mettent à geindre opiniâtrement.

— Et de longs corbillards, sans tambours ni musique,
Défilent lentement dans mon âme; l'Espoir,
Vaincu, pleure, et l'Angoisse atroce, despotique,
Sur mon crâne incliné plante son drapeau noir.

Charles Baudelaire




Spleen

Je suis comme le roi d'un pays pluvieux,
Riche, mais impuissant, jeune et pourtant très-vieux,
Qui, de ses précepteurs méprisant les courbettes,
S'ennuie avec ses chiens comme avec d'autres bêtes.
Rien ne peut l'égayer, ni gibier, ni faucon,
Ni son peuple mourant en face du balcon.
Du bouffon favori la grotesque ballade
Ne distrait plus le front de ce cruel malade ;
Son lit fleurdelisé se transforme en tombeau,
Et les dames d'atour, pour qui tout prince est beau,
Ne savent plus trouver d'impudique toilette
Pour tirer un souris de ce jeune squelette.
Le savant qui lui fait de l'or n'a jamais pu
De son être extirper l'élément corrompu,
Et dans ces bains de sang qui des Romains nous viennent,
Et dont sur leurs vieux jours les puissants se souviennent,
Il n'a su réchauffer ce cadavre hébété
Où coule au lieu de sang l'eau verte du Léthé.

Pluviôse, irrité contre la ville entière,
De son urne à grands flots verse un froid ténébreux
Aux pâles habitants du voisin cimetière
Et la mortalité sur les faubourgs brumeux.

Mon chat sur le carreau cherchant une litière
Agite sans repos son corps maigre et galeux ;
L'âme d'un vieux poète erre dans la gouttière
Avec la triste voix d'un fantôme frileux.

Le bourdon se lamente, et la bûche enfumée
Accompagne en fausset la pendule enrhumée,
Cependant qu'en un jeu plein de sales parfums,

Héritage fatal d'une vieille hydropique,
Le beau valet de coeur et la dame de pique
Causent sinistrement de leurs amours défunts.




Spleen : J'ai plus de souvenirs que si j'avais mille ans


Un gros meuble à tiroirs encombré de bilans,
De vers, de billets doux, de procès, de romances,
Avec de lourds cheveux roulés dans des quittances,
Cache moins de secrets que mon triste cerveau.
C'est une pyramide, un immense caveau,
Qui contient plus de morts que la fosse commune.
- Je suis un cimetière abhorré de la lune,
Où comme des remords se traînent de longs vers
Qui s'acharnent toujours sur mes morts les plus chers.
Je suis un vieux boudoir plein de roses fanées,
Où gît tout un fouillis de modes surannées,
Où les pastels plaintifs et les pâles Boucher,
Seuls, respirent l'odeur d'un flacon débouché.

Rien n'égale en longueur les boiteuses journées,
Quand sous les lourds flocons des neigeuses années
L'ennui, fruit de la morne incuriosité,
Prend les proportions de l'immortalité.
- Désormais tu n'es plus, ô matière vivante !
Qu'un granit entouré d'une vague épouvante,
Assoupi dans le fond d'un Saharah brumeux ;
Un vieux sphinx ignoré du monde insoucieux,
Oublié sur la carte, et dont l'humeur farouche
Ne chante qu'aux rayons du soleil qui se couche.


FERNANDO PESSOA - MELANCOLIAS, SPLEEN, SONO, DEPRESSÃO?



FERNANDO
PESSOA

Poesias de
Álvaro de Campos



      Adiamento
    Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, E assim será possível; mas hoje não... Não, hoje nada; hoje não posso. A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, O sono da minha vida real, intercalado, O cansaço antecipado e infinito, Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico... Esta espécie de alma... Só depois de amanhã... Hoje quero preparar-me, Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte... Ele é que é decisivo. Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos... Amanhã é o dia dos planos. Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo; Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã... Tenho vontade de chorar, Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro... Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo. Só depois de amanhã... Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana. Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância... Depois de amanhã serei outro, A minha vida triunfar-se-á, Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático Serão convocadas por um edital... Mas por um edital de amanhã... Hoje quero dormir, redigirei amanhã... Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância? Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã, Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo... Antes, não... Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser. Só depois de amanhã... Tenho sono como o frio de um cão vadio. Tenho muito sono. Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã... Sim, talvez só depois de amanhã... O porvir... Sim, o porvir...
      Álvaro de Campos



Álvaro de Campos
 
O Sono
 
    O sono que desce sobre mim,                            
    O sono mental que desce fisicamente sobre mim, 
    O sono universal que desce individualmente sobre mim — 
    Esse sono 
    Parecerá aos outros o sono de dormir, 
    O sono da vontade de dormir, 
    O sono de ser sono. 
    Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:  
    E o sono da soma de todas as desilusões,  
    É o sono da síntese de todas as desesperanças,  
    É o sono de haver mundo comigo lá dentro  
    Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso. 

    O sono que desce sobre mim 
    É contudo como todos os sonos. 
    O cansaço tem ao menos brandura, 
    O abatimento tem ao menos sossego, 
    A rendição é ao menos o fim do esforço, 
    O fim é ao menos o já não haver que esperar. 

    Há um som de abrir uma janela, 
    Viro indiferente a cabeça para a esquerda 
    Por sobre o ombro que a sente, 
    Olho pela janela entreaberta: 
    A rapariga do segundo andar de defronte 
    Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém. 
    De quem?, 
    Pergunta a minha indiferença. 
    E tudo isso é sono. 

    Meu Deus, tanto sono!  ...

sábado, 16 de outubro de 2010

GAIARSA - UMA ÉPOCA

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/815615-morre-em-sao-paulo-o-psiquiatra-jose-angelo-gaiarsa.shtml


http://www.doutorgaiarsa.com.br/

Figura simpaticíssima, eu adorava suas conversas, conferências e livros.
Uma vez uma amiga da USP queria marcar consulta com o Gaiarsa e acabei marcando também para fazer companhia e por curiosidade. Juro que morri de medo ao encarar o famoso psiquiatra. Como ele estava sem horários para novos pacientes ele nos indicou o Dr. Julio Noto. Eu segui com o Julio e e estou até hoje, uns 40 anos depois:  minha amiga acabou desistindo...

Numa palestra para os funcionários da Ag. Centro do BB, citou, para escândalo de muitos a frase: os canalhas também envelhecem. Era uma palestra sobre o envelhecimento!


Morreu neste sábado aos 90 anos o médico psiquiatra José Angelo Gaiarsa. Segundo sua neta Laura, Gaiarsa morreu em São Paulo por volta das 5h enquanto dormia. A família ainda não sabe a causa da morte.
O velório será hoje, a partir das 14h, no cemitério São Paulo. O corpo será enterrado no cemitério da Assunção, em Santo André, onde o psiquiatra nasceu. José Gaiarsa era divorciado e deixa três filhos e oito netos.
Divulgação
Morreu neste sábado, em SP, o psiquiatra José Angelo Gaiarsa
Morreu neste sábado, em SP, o psiquiatra José Angelo Gaiarsa
Nascido em 19 de agosto de 1920, Gaiarsa sempre será lembrado como um iconoclasta, conforme disse seu filho Flávio à Folha.
Zeca, como era conhecido pelos amigos, falava muito contra a estrutura familiar clássica, segundo ele a maior geradora de neuroses nos indivíduos, e apoiava abertamente, em redes de rádio e TV, a liberdade feminina já na década de 1960.
Clinicou por mais de 50 anos, publicou 30 livros e por dez anos teve um quadro de televisão em que esclarecia dúvidas dos telespectadores.
Vindo de Santo André, de uma família de seis irmãos e irmãs, entrou na Faculdade de Medicina da USP em primeiro lugar, posição que manteve por toda a graduação.
Casou-se com Maria Luiza Martins Gaiarsa, cirurgiã e colega de turma, com quem teve quatro filhos homens: Flávio, Marcos (já morto), Paulo e Dácio. Separou-se em uma época em que o rompimento das relações matrimoniais era controverso.
Foi introdutor de Carl Gustave Jung e William Reich no Brasil, psicanalistas ideólogos da revolução sexual.
Seu primeiro livro, "A Juventude Diante do Sexo", veio a partir de um artigo de capa para a revista "Realidade" sobre o comportamento sexual da juventude que passava por profundas modificações.
Seu último livro publicado foi o "Meio século de Psicoterapia". Atualmente, estava revisando para reedição a obra "Respiração, Angústia e Renascimento".
Seu último prêmio foi do International Academy of Child Brain Development,do Institute for the Achievent of Human Potential, decorrente de um trabalho recém concluído sobre o desenvolvimento físico, cerebral e emocional das crianças.

Do Estadão:



"
Morreu neste sábado, 16, o psicanalista José Angelo Gaiarsa, aos 90 anos. O velório acontece no Cemitério São Paulo. E o corpo será enterrado no Cemitério Assunção, em Santo André, na manhã de domingo, 17.
Marcos Mendes/AE
Marcos Mendes/AE
José Angelo Gaiarsa será enterrado em Santo André, cidade onde nasceu
José Angelo Gaiarsa nasceu em 1920 em Santo André. Estudou medicina na Universidade de São Paulo e especializou-se em psiquiatria.
Durante dez anos, de 1983 a 1993, Gaiarsa apresentou um quadro em um programa diário da TV Bandeirantes, em que respondia, ao vivo, dúvidas dos telespectadores. Ficou conhecido para sempre por suas posições polêmicas: defendia o relacionamento aberto, questionava a ideia de a maternidade ser uma maravilha absoluta e condenava a instituição do casamento e da família.
Teve mais de 30 livros publicados, dentre eles Meio Século de Psicoterapia Verbal e Corporal, cujo lançamento marcou a comemoração de seus 50 anos de carreira, em 2008. Na página que mantinha na internet Gaiarsa diz "tive a sorte - e o azar! - de viver quase todo o século XX (...)."
6 | Notícias | 03/02/08 00:08

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Abominável mundo velho

Eu tinha pensado agrupar estas postagens sob o nome de mundo cão, mas decididamente esta expressão não está com nada, cão, eu gosto dos cães, perros.

experiência com sífilis na Guatemala
Sex, 01 Out, 04h37
Por Maggie Fox

WASHINGTON (Reuters) - Os Estados Unidos pediram desculpas na sexta-feira por um experimento conduzido nos anos 1940 no qual os pesquisadores infectaram com sífilis prisioneiros, mulheres e doentes mentais guatemaltecos.
No experimento, destinado a testar a então recém-desenvolvida penicilina, os presos eram infectados por prostitutas e depois tratados com o antibiótico.
"O estudo de inoculação da doença transmitida sexualmente conduzida entre 1946 e 1948 na Guatemala foi claramente antiético", disseram a secretária de Estado Hillary Clinton e a secretária de Serviços Humanos e de Saúde Kathleen Sebelius em um comunicado.
"Embora esses eventos tenham ocorrido mais de 64 anos atrás, estamos indignadas que uma pesquisa tão repreensível possa ter ocorrido sob a fachada de saúde pública. Lamentamos profundamente o ocorrido e pedimos desculpas a todos os indivíduos que foram afetados por tais práticas de pesquisa abomináveis", disse o comunicado.
A experiência, que ecoou o infame estudo Tuskegee dos anos 1960 no qual negros norte-americanos foram deixados sem tratamento para sífilis, foi revelada por Susan Reverby, professora de estudos sobre mulheres no Wellesley College, em Massachusetts.
Ela fez a descoberta este ano, enquanto atualizava um livro sobre o Tuskegee e, o que é incomum para um pesquisador, informou o governo norte-americano antes de publicar seus achados.
"Além da penitenciária, os estudos ocorreram num asilo para doentes mentais e em quartéis militares", afirmou Reverby em um comunicado.
"No total, 696 homens e mulheres foram expostos à doença e depois tratados com penicilina. Os estudos seguiram até 1948 e os registros sugerem que, apesar das intenções, provavelmente nem todo mundo foi curado", afirmou ela.
Os achados, que serão publicados em janeiro no Journal of Policy History, associam os estudos de Tuskegee e da Guatemala.
"Em 1946-1948, o dr. John C. Cutler, médico do Serviço de Saúde Pública (PHS) que depois faria parte do Estudo sobre Sífilis no Alabama nos anos 1960 e continuaria a defendê-lo duas décadas depois de sua conclusão nos anos 1990, dirigia um projeto de inoculação da sífilis na Guatemala, co-patrocinado pelo PHS, pelos Institutos Nacionais de Saúde, pelo Bureau Pan-Americano de Saúde Sanitária (atual Organização Pan-Americana da Saúde) e pelo governo guatemalteco", escreveu ela.